Opinião

Resiliência de marca frente à crise

Diego Piovesan

Em meio à pandemia de Covid-19, do excesso de informação, da crise econômica e da alta saturação de mercado, persistir na essência de nossas marcas pode ser um exercício de presente e futuro para gestão. Neste texto, relaciono algumas características de resiliência neste cenário atual e muito presente, para que o pensamento estratégico possa ultrapassar preconceitos e seja tão fluido que possa desviar de pedras como um rio.

Esse não é um artigo de respostas, mas como você perceberá, um texto que busca questioná-lo para que você se adapte e se fortaleça nesse processo de crise.

Resiliência é um processo constante de aprendizado e persistência

Não podemos esquecer que marcas são feitas por pessoas e para as pessoas. Corporação não tem esse nome senão por ser o corpo da organização. Uma marca que busca persistir em um mundo cada vez mais mutante precisa, além de sua saúde financeira, entender e construir conexões positivas para o mundo a partir de suas ações humanas.

Hoje uma marca não vende apenas produtos, ela cria experiências, informação, conteúdo e sentido para a vida de seus consumidores. As marcas têm um papel até mesmo na educação social e na resiliência coletiva.

Paulo Sabbag, autor do livro Resiliência, aponta algumas características de marcas resilientes, levando em consideração essa relação humana. Apresento aqui os principais tópicos discutidos pelo autor, fazendo algumas indagações.

Marcas resilientes apresentam visão de futuro e preservam sua identidade. O quanto as marcas realmente se conhecem? O quanto um propósito de marca é realmente ativado em suas ações?

Marcas resilientes preservam o otimismo mesmo nos piores momentos. Comprar uma briga em um ambiente hostil é realmente necessário? Como sua marca lida com pensamentos contrários? De forma educativa ou entregando na mesma moeda?

Marcas resilientes promovem o trabalho em equipe. O quanto sua equipe trabalha internamente a colaboração e a cocriação de ideias e possibilidades? Duas cabeças sempre pensam melhor que uma e evitarão, muitas vezes, cegueiras individuais.

Marcas resilientes apresentam empatia interna e valorizam a transparência. Sua marca se coloca no lugar de seu consumidor? Seu líder se coloca no lugar de seu funcionário e vice-versa?

Marcas resilientes preservam senso de pertencimento dos funcionários, vínculos com clientes e com a rede de interessados (stakeholders). Sua marca possui uma sólida proximidade com a comunidade e sociedade? Sua marca manifesta, por meio da responsabilidade social, uma boa reputação?

Marcas resilientes entendem que a liderança deve ser uma referência inspiradora, reconhecida dentro e fora. Sua marca também é reconhecida pela capacidade de seus colaboradores? Sua marca manifesta capacidade empreendedora, sobretudo durante as crises como as que estamos passando?

Marcas resilientes apresentam capacidade de auto-organização depois de crise. Sua marca manifesta flexibilidade operacional e capacidade de aprender? Frente a todos os problemas atuais, sua marca sabe tolerar mudanças e se adaptar?

Marcas resilientes apresentam capacidade de recuperação da estrutura e sistemas de trabalho depois de crises. Sua marca apresenta dinamismo frente a possibilidades ou ameaças? Quais aprendizados podem ser levados e aplicados após momentos negativos?

Marcas resilientes demonstram busca persistente por estratégias e objetivos. Sua marca, além de um propósito, possui um posicionamento claro? O tom de voz utilizado está alinhado ao pensamento?

Resiliência não é uma ferramenta que se aplica unicamente com a equipe e com a marca. É um processo, uma aptidão que pode ser compreendida, praticada e, com isso, desenvolvida. Observando por essa ótica, ela agrega estratégias que podem ser direcionadas dentro e fora da marca, seja em caráter cognitivo ou emocional.

Precisamos reagir com ação

Neste mercado instável em que vivemos, podemos tratar resiliência como uma competência de indivíduos ou organizações que fortalece, permite enfrentar e aprender com adversidades e desafios. A resiliência pode ser aprimorada ao reunir consciência, atitude e habilidades que surgem nos processos enfrentados no dia a dia.

Em síntese, cinco conceitos reforçam a resiliência das marcas e precisam ser amplamente praticados no cotidiano de mercado, não apenas em momentos instáveis como esse, mas todos os dias:

1

Identidade

O fator essencial, a verdade da empresa, seu propósito e DNA precisam estar claros, tanto internamente na empresa quanto na mente de seus consumidores.

2

Colaboração

Unir competências ao redor da mesma mesa pode ampliar os olhares para o problema, além de gerar novas ideias por meio de múltiplas opiniões.

3

Flexibilidade

Adaptar-se sem perder a essência de marca. Saber lidar tanto com elogios de seus consumidores quanto com críticas — fundamentadas ou não.

4

Lealdade

Conquistar consumidores leais faz com que uma marca tenha defensores, pessoas engajadas em sua essência, história, e, talvez, até mesmo produtos.

5

Experiência

Gerar experiência de consumo é peça chave para maior imersão na marca. Isso fortalece sua lealdade e auxilia na construção de sua identidade.

Os pontos acima são convergentes. E, sabendo que resiliência é um processo de aprendizado e persistência, para uma alta resiliência de marca é necessário que haja mais um item, transversal a todos esses: o feedback, que é importante não apenas no momento do serviço ou produção, mas também para os próximos produtos, ações, comunicação, e para que a marca possua maior conhecimento do que os seus consumidores pensam sobre a própria marca. Que você possa persistir e tornar sua marca ainda mais resiliente nesse mundo incerto, mas cheio de possibilidades.

Diego Piovesan

Diego Piovesan Medeiros é doutor em Design

Revista Liderança Empresarial - Edição 1 - Dezembro de 2020