Opinião

A indústria do carvão de Santa Catarina e seu futuro

Fernando Zancan

A indústria secular do carvão mineral fez cidades crescerem e se desenvolverem. Milhares de jovens estudaram na SATC, que foi criada em 1959 e que, até hoje, é mantida e administrada pelas empresas carboníferas com um por cento de sua receita. Compromisso social deste porte, raro em segmentos industrias, transformou a vida das pessoas e a economia da região, via empreendedores formados na SATC. A indústria de infraestrutura sempre dependeu de políticas públicas e passou por diversas crises, superadas pelo empenho da classe produtiva, política e da sociedade.

As emissões de CO2 das usinas a carvão representam somente 0,27% das emissões brasileiras

De olho no futuro, projetos de usinas térmicas mais eficientes foram desenvolvidos, licenciados, mas devido ao estigma das mudanças climáticas e injunções políticas não tiveram sucesso. Cabe salientar que as emissões de CO2 das usinas a carvão representam somente 0,27% das emissões brasileiras. A indústria de mineração de carvão investe na busca de tecnologias para aumentar a produtividade, segurança e minimizar os impactos ambientais. Por outro lado, a atividade tem gerado recursos financeiros para recuperar os passivos ambientais gerados quando a questão ambiental não era considerada pela sociedade.

O programa de recuperação ambiental, com investimentos milionários, tem melhorado os recursos hidricos e tornado a paisagem verde. Para atender a demanda tecnológica, na redução de emissões e na criação de novos produtos a partir do carvão, o setor criou um Centro Tecnológico com investimentos de R$ 18 milhões em instalação física e mais de R$30 milhões em projetos de pesquisa e desenvolvimento, incluindo um projeto de classe mundial, para a tecnologia de captura de carbono.

A cadeia produtiva representa 30% na economia de 15 municípios do Sul catarinense (R$6 bilhões/ano), onde habitam mais de 600 mil pessoas. No setor, trabalham 21 mil pessoas direta e indiretamente. A indústria do carvão é composta pelas empresas mineradoras, pela Ferrovia Tereza Cristina, que passa por 14 municípios, pelo Complexo Jorge Lacerda e pela indústria de subprodutos da combustão (cinza), incorporada ao cimento. Segmentos como serviços e indústrias fornecedoras de bens para a cadeia produtiva do carvão são parceiros da atividade carbonífera.

Nesse momento a situação do setor requer atenção do poder público, face o fim da vida útil das usinas existentes e o fim do mecanismo legal que remunera as empresas carboníferas em 2027. Para tanto, o setor vem trabalhando, junto aos governos Estadual e Federal, e informando as partes interessadas sobre a necessidade de estruturar um novo parque termelétrico para substituir as usinas que serão desativadas, dando um horizonte de longo prazo para a indústria e região, com a atração de novos investimentos. Com o Complexo Jorge Lacerda à venda e sem perspectiva efetivação, é necessário um esforço da classe política para sustentar a economia do Sul, visando manter a atividade da cadeia produtiva. A região Sul de Santa Catarina precisa se desenvolver e a indústria do carvão pode contribuir.

Fernando Zancan

Fernando Luiz Zancan é diretor Executivo da SATC e presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM).

Revista Liderança Empresarial - Edição 1 - Dezembro de 2020

Imagem de Isaac Liew por Pixabay